Espelho – o vislumbre

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio tão amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?

Retrato – Cecília Meireles

Este é o momento em que paro para observar minha própria vida. Tento perceber cada detalhe que não tinha visto em outras oportunidades e vejo que deixei vários pedaços caírem de mim pelo caminho. Não sei em quais momentos isso ocorreu, mas já não me importa saber. Procuro reconhecer as falhas e recolher o que for possível. Extrair lições e aprende-las. Limpar a mente e o coração na esperança de me renovar, me reavivar.

Penso nos momentos em que me sinto limitada, incapacitada ou apenas desanimada. O que é isto que nos faz às vezes desistir de lutar, desistir de sonhar? Uma culpa ou medo interno ou uma reação a algum fator externo? Somos criados para não crermos o suficiente em nós mesmos, para sempre depender de um guia, espiritual ou não. E quando precisamos nos segurar sozinhos simplesmente perdemos o equilíbrio.

Muitas vezes a vida nos leva a pontos em que ficamos totalmente sós. Ninguém pode nos alcançar de tão absortos em nossos próprios questionamentos, em nossa própria solidão. Solidão essa, que se faz essencial para a busca por compreensão em nosso interior. Para a busca por nosso mais profundo e inocente eu. E isso dói. Ah, dói sim. E às vezes não dói pouco, não. Mas a dor também é uma ótima conselheira para quem sabe se aquietar e ouvir. Ouvir e observar o que aflige é o primeiro passo para entender o que conforta e acalma.

Nessa busca, fiel e prestativa companheira é a música. A música que embala, que inspira, que expressa o intangível, preso na confusão do ser. E como complemento deste relato, selecionei algumas companheiras para compartilhar:

  1. Nude – Radiohead
  2. Wings of God – Anathema
  3. Funny Time of Year – Beth Gibbons & Rustin Man
  4. Magic Doors – Portishead
  5. Nutshell – Alice in Chains
  6. Nothing as It Seems – Pearl Jam
  7. Dirge for November – Opeth
  8. We Disintegrate – Nevermore
  9. Empty Words – Death
  10. Tunnel Effect – Quo Vadis

Coincidência

Eu tenho uma relação muito íntima com as músicas e os artistas que me agradam. Quando uma música me toca é como se meus sentimentos fossem expressos magicamente por pessoas que eu nem conheço. Eu viajo até na forma que a música chega até mim, em como eu descubro as músicas e os artistas. Não é incrível descobrir um som que se encaixa perfeitamente com o que você está passando ou sentindo? E é ainda mais legal quando essa descoberta ocorre de maneira inusitada e surpreendente.

Algumas vezes as músicas são descobertas “fora de época” e ficam guardadas até que possam ser compreendidas. Outras vezes é amor à primeira ouvida, a música toca no fundo, vibra através do corpo, da mente e da alma e aquele artista parece que vive dentro da nossa cabeça. E a maneira que se descobre a música pode interferir no seu relacionamento com ela.

Há algumas semanas recebi um newsletter do Rock Online com o título “Anathema: Atmosférico e com belas melodias”. Eu não conhecia o nome, mas o título me chamou a atenção. Deve ser coisa boa – pensei. Cliquei na mensagem e cai na resenha do último trabalho do grupo: We’re here because we’re here, lançado este ano. Um pequeno resumo sobre a obra que manteve desperto meu interesse.

Eu já ia procurar pelas músicas no YouTube quando lembrei de uma página que salvei para ler depois. Era um post muito legal sobre mulheres na música, que encontrei numa busca por Bat for Lashes. Deixei a aba da resenha esperando no canto e fui ler o post para não correr o risco de esquece-lo. Postagem lida, vídeos assistidos (nem todos, são muitos!) entrei na página inicial do blog para conhece-lo melhor e eis que a última postagem era exatamente sobre: Anathema! Uma resenha muito louca sobre o We’re here because we’re here já com os embeds do youtube para ouvir as músicas. E foi aí que eu me apaixonei de vez. Pirei na coincidência que era aquela aba esperando no canto enquanto as músicas praticamente vieram até mim. Coloquei Anathema para esperar mas Anathema não quis. Anathema queria ser ouvida. E quanto mais eu ouvia e lia a resenha, mais eu pirava. Aquelas músicas vibravam pelo meu corpo, tomavam minha mente e minha alma e aquele texto só ajudava. Ouvi as músicas apenas duas vezes naquela quinta-feira, mas foi o suficiente para passar o fim de semana com elas na cabeça, mesmo sem um som por perto.

Quando voltei de viagem dei um jeito de conseguir tudo o que que fosse possível de Anathema e agora escuto as músicas todos os dias. E até quando estou em silêncio, alguma música deles está tocando em minha cabeça. Viciei!

PS.: O Blog que citei é o Musicanoid, um blog sobre música escrito por uma garota de muito bom gosto (na minha humilde opinião).

Primeiro passo

O princípio… Como começar?

Saudações, apresentações, introduções… não me parecem boas no momento. Talvez um poema. Poderia encontrar algo bom, mas não seria meu. E este blog é pra ser meu espaço, minha janela, minha ferramenta de expressão. E é assim que vou usa-lo. Mesmo que ninguém leia, o importante é me expressar.

Desde que comecei a pensar mais a fundo na vida, lá pelo começo da minha adolescência, tenho valorizado a comunicação e lutado para conseguir me abrir mais e me expressar melhor. É uma luta boa que vale muito a pena, mas tem seus altos e baixos. No momento me encontro um pouco travada. Me enveredei por caminhos que não eram exatamente como eu esperava e as circunstâncias me deixaram atônita e quase estática quanto a vida e a mim mesma.

Da necessidade de me abrir novamente surge o Musicalma, meu caderno virtual para anotar meus pensamentos, sentimentos, devaneios, delírios, divagações e o que for necessário para abrir as portas da percepção ;). Espero que eu ainda tenha habilidade e ânimo para escrever como eu costumava ter.

– Mas e porque Musicalma? O que a música tem a ver com isso?
: Tudo! A música é parte de mim, talvez até eu toda (ainda não consegui delimitar). E toda essa viagem psico-filosófica vem sempre acompanhada de trilha sonora. Eu vivo música o tempo todo. Sempre tenho alguma melodia na cabeça ou um ritmo em outra parte do corpo. Pés, mãos, cabeça, olhos e até dentes estão sempre se movendo, definindo ou quebrando algum ritmo e muitas vezes eu nem percebo. E é mais ou menos isso que vou passar por aqui.

“A música em minha alma e a alma da minha música.”